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Especialistas e decisores debatem estratégias para mitigar o impacto do VSR

A conferência “Prevenção do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), uma prioridade nacional de saúde” foi uma iniciativa de um grupo de especialistas com o objetivo de promover e alargar o debate à população e aos deputados da comissão parlamentar de saúde sobre as consequências das infeções causadas pelo VSR em crianças, no sentido de inspirar ações concretas para mitigar o impacto deste vírus.

A conferência “Prevenção do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), uma prioridade nacional de saúde” foi uma iniciativa de um grupo de especialistas com o objetivo de promover e alargar o debate à população e aos deputados da comissão parlamentar de saúde sobre as consequências das infeções causadas pelo VSR em crianças, no sentido de inspirar ações concretas para mitigar o impacto deste vírus.

A iniciativa, que decorreu no Auditório Almeida Santos, na Assembleia da República, no dia 12 de dezembro de 2023, foi promovida pelo grupo de trabalho RSV Think Tank – inspirar à mudança, que definiu três linhas de ação fundamentais para mitigar o impacto do VSR, apresentadas pelo pediatra Manuel Magalhães: medidas de literacia em saúde, uma vez que existe um grande desconhecimento sobre o VSR e o seu impacto; medidas para reduzir a disseminação do vírus (arejamento dos espaços nas creches, promoção de atividades ao ar livre, etiqueta respiratória), medidas que preparem as famílias para gerir de forma mais eficaz as infeções por VSR; e medidas preventivas farmacológicas, definidas estrategicamente, que permitam uma verdadeira equidade de acesso.

Estas medidas, como referiu o médico de saúde pública Gustavo Tato Borges, estão alinhadas com o Plano Nacional de Saúde 2030, que identifica as estratégias de saúde adequadas à mudança, visando particularmente a redução das iniquidades em saúde, para uma saúde sustentável de todos para todos. Este plano defende em concreto o “reforço das estratégias de vacinação, não só nas suas componentes técnica e científica, como na literacia em saúde e na prevenção da hesitação em vacinar”.

O caos que se vive neste momento nas urgências de pediatria em todo o país foi um dos temas abordados, em grande parte devido ao elevado número de infeções respiratórias baixas moderadas e graves. Como referiu o pediatra Gustavo Januário, esta pressão dificulta a avaliação dos casos e conduz “a altas precoces de casos que muitas vezes voltam”. Contudo reforçou que “é um privilégio vivermos numa época em que existem soluções preventivas para esta doença, o que é um motivo de esperança”.

João Farela Neves, pediatra no Hospital Dona Estefânia e Diretor do Departamento de Pediatria do Hospital da Luz, alertou para a necessidade de “sermos rápidos” nas tomadas de decisão nesta área. Falou sobre “a dificuldade de ventilar uma criança com bronquiolite” e a necessidade de se trabalhar em conjunto.

Durante a sessão foi abordado o exemplo da Região Autónoma da Madeira, que avançou a 1 de novembro com a imunização de todas as crianças que estão a viver a sua primeira época de VSR (crianças nascidas a partir de 1 de abril de 2023, até 31 de março de 2024).

De acordo com os dados apresentados por Bruna Ornelas de Gouveia, Diretora Regional de Saúde da Região Autónoma da Madeira, estão neste momento a atingir uma taxa de cobertura para as crianças nascidas entre 1 de abril e 31 de outubro de 2023 na ordem dos 92%, e uma taxa de cobertura de 94% para as crianças nascidas depois de 1 de novembro. Como referiu, é ainda cedo para uma avaliação global do impacto desta medida, mas segundo os resultados das primeiras semanas de imunização houve uma redução de cerca de 34% na procura dos serviços de urgência hospitalar por infeções respiratórias agudas baixas em crianças com menos de 2 anos e também uma redução no total das hospitalizações relacionadas com o VSR comparativamente com a época de 2022/2023 na ordem dos 40%, adiantou a diretora regional. O que faz com que estejam “satisfeitos e esperamos ter excelentes resultados até ao final da época”.

Na sua intervenção Marta Valente Pinto, pediatra e Presidente da Comissão Técnica de Vacinação da Direção-Geral da Saúde, explicou a necessidade de medidas de avaliação que permitam a equidade e sustentabilidade no acesso a estratégias de vacinação. Referiu ainda que espera que “no primeiro trimestre de 2024 seja entregue a recomendação final sobre as avaliações das várias estratégias preventivas contra o VSR à Direção-Geral de Saúde e ao Ministério da Saúde”.

No encerramento da conferência Rita Sá Machado, Diretora-geral da Saúde, referiu que é um dos objetivos da política de saúde é a proteção dos mais vulneráveis, como as crianças. E relembrou que “a vacinação é uma das medidas de saúde pública com maior custo efetividade”. Reforçou ainda a necessidade de “mantermos aquilo que aprendemos com a pandemia”, e continuar a apostar na literacia em saúde.

O VSR infeta cerca de nove em cada dez crianças até aos 2 anos de idade1, sendo a principal causa de hospitalização em crianças com menos de 12 meses de idade2.  A gravidade da infeção por VSR é imprevisível. Qualquer criança (saudável e nascida de termo, prematura, ou com condições subjacentes) poderá ser sujeita a hospitalização no seu primeiro contacto sazonal com o vírus3.

Referências:

  1. Simoes EAF. Lancet 1999; 354: 847–852
  2. De acordo com um estudo realizado nos EUA sobre hospitalizações pediátricas codificadas por VSR entre 1997 e 1999. Leader S et al. Pediatr Infect Dis J 2002; 21(7): 629-632
  3. Bianchini S et al. Microorganisms 2020; 8(12): 2048